segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sócrates, a Filosofia e a Cidade


“Sócrates, a Filosofia e a Cidade”




Ensino Recorrente por Módulos. 11º Ano - Turma Q Módulo VI

Trabalho elaborado por:

Patrícia Azevedo nº 7, Paulo Nunes nº 10 e Bruno Gonçalves nº1

Introdução ao Tema

Introdução ao Tema

Σωκράτης

Este trabalho de grupo foi elaborado no âmbito da disciplina de Filosofia 11º ano 6ºmodulo e tem como objectivo expor a importância dada á vida e aos ideais de Sócrates desde a sua origem até aos tempos modernos.

Referimos a vida e a interacção de Sócrates em Atenas na Grécia antiga e como seria numa possível existência no séc. XXI.

Expomos na conclusão uma visão individual sobre a temática de Sócrates e a sua envolvência filosófica com a cidade e a sociedade contemporânea.


A cidade de Atenas


A cidade de Atenas

Atenas é vista como o berço ou modelo da Democracia Ocidental. Seu modelo político, que atingiu seu auge no Período Clássico garantia a igualdade de todos os cidadãos diante da lei, além da participação de todos os cidadãos na Assembleia. Esse tipo de Democracia é chamado de directa, em oposição às Democracias modernas, como a portuguesa, que são chamadas de representativas, pois elegemos representantes para nos representar na Assembleia e proporem leis que sejam do interesse da nação. Nenhuma Democracia de hoje pode ser chamada de directa, mas existem várias diferenças entre as Democracias representativas. Outro aspecto importante da Democracia Ateniense é o fato de ela ter sido muito restrita, só eram considerados cidadãos os homens, atenienses, isto é, filhos de pai ou mãe atenienses, maiores de 20 anos. Estavam excluídos, portanto, as mulheres, os homens atenienses menores de 20 anos, os estrangeiros – filho ou neto de estrangeiro seria sempre um estrangeiro, e os escravos – que nem sequer eram considerados seres humanos. Assim, mesmo representando um modelo bem avançado, não podemos fechar os olhos para as limitações da Democracia Ateniense.

Os nossos conceitos actuais de cidadania começaram a forjar-se na antiga Grécia. As revoluções políticas que ocorreram após o século VI a.C. forma no sentido de definirem o cidadão como aquele que tinha um conjunto de direitos e deveres, pelo simples facto de serem originário de uma dada cidade-estado. Estes direitos eram iguais para todos e estavam consignados em leis escritas.

A cidadania confundia-se com a naturalidade e encontrava a sua expressão na Lei . O mais levado dos direitos era o da participação dos cidadãos nas decisões da cidade, podendo ser escolhido ou nomeado para qualquer cargo público. Todos os demais habitantes da cidade, como as mulheres ou os estrangeiros (metecos) estavam afastados deste direitos.

Na Grécia antiga, toda a sociedade da civilização apresentava a dicotomia cidadão e não-cidadão. Lage de Resende e Morais, apud Wilba L. M. Bernardes, cita que:

“A cidadania era para os gregos um bem inestimável. Para eles a plena realização do homem se fazia na sua participação integral na vida social e política da Cidade-Estado”. “...só possuía significação se todos os cidadãos participassem integralmente da vida política e social e isso só era possível em comunidades pequenas”.

Sócrates


Sócrates

Sócrates, em grego antigo Σωκράτης [Sōkrátēs], (470 a.C.399 a.C.) foi um filósofo ateniense e um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental e um dos fundadores da actual Filosofia Ocidental.

Sócrates nasceu em uma família rica de Atenas, filho do escultor Sofronisco e da parteira Fenareta. Por um certo período, serviu no Exército, mas passou a maior parte da vida nas praças da cidade e nos mercados, conversando com as pessoas que lá encontrava. quando estava na casa dos 50 anos de idade, casou-se com Xantipa, com quem teve três filhos. As descrições que se fazem dele o pintam como alguém extremamente feio: barrigudo, com olhos esbugalhados e nariz arrebitado. Mas consta que era "agradabilíssimo". Apesar disso, foi condenado à morte por suas actividades filosóficas.

Sócrates foi, provavelmente, a figura mais enigmática de toda a história da filosofia, ele por si só foi um problema filosófico. Não escreveu nada, enquanto a produção literária de seu tempo era abundante; não fez carreira de professor, enquanto inúmeros contemporâneos seus aproveitaram o talento pedagógico, e apesar disso foi um dos filósofos que mais influenciaram o pensamento europeu. Sócrates é conhecido através de Aristófanes, que o denigre sob uma visão caricatural; de Xenofonte, que nos oferece dele uma imagem simplista; e de Platão, que lhe dá uma estatura fundamental na história da filosofia. Mas Platão, seu principal discípulo, ao que parece, teria feito de Sócrates um retrato fiel ou um retrato sublimado por sua devoção e sua própria genialidade? Essa questão ficou insolúvel e somente nos foi permitido extrair os traços comuns dos textos daqueles que o conheceram, sem deixar de lado elementos da visão que a tradição consagrou, que é a que maior influência exerceu no Ocidente. No final dos anos 1980, porém, o jornalista norte-americano Izzy Stone escreveu um livro respeitável e desmistificador a respeito do filósofo grego: O julgamento de Sócrates (1987). Para isso, empreendeu uma pesquisa longa e exaustiva, onde procurou reconstituir o retrato mais fiel possível do Sócrates histórico.

No entanto, no ano de 399 a.C., Sócrates foi acusado de "introduzir novos deuses" (as "vozes interiores divinas" que ele afirmava ouvir na cabeça) e corromper os jovens, além de não acreditar nos deuses venerados. O governo de Atenas foi uma das primeiras democracias do mundo. Sócrates, por outro lado, não escondia que acreditava que seria melhor para o Estado ser governado por uma só pessoa, que ele qualificava como "aquele que sabe". Alguns consideravam os pontos de vista de Sócrates uma ameaça à estrutura da vida em Atenas. Preocupado com a influência antidemocrática de Sócrates sobre os jovens aristocratas (entre eles Platão) envolvidos no pensamento socrático, um júri de 501 membros o declarou culpado, por pequena maioria.

Ele poderia ter pedido clemência. Poderia ter salvado a vida concordando em sair de Atenas. Mas, agindo desse modo, Sócrates não teria sido coerente consigo mesmo. Para ele, a consciência - e a verdade - tinha mais calor do que a vida. Assegurou ao júri que agira apenas pelo melhor dos interesses do Estado, mas foi condenado a tomar cicuta. Embora lhe preparassem a fuga de Atenas, preferiu cumprir a sentença. Pouco depois da sentença, bebeu do veneno na presença de amigos e morreu. A democracia fracassava, ao permitir sua condenação e morte - e esse era, quase com certeza, o plano de Sócrates.

A Atenas da época de Sócrates era um importante centro de debates, visitado por todos os grandes pensadores de então. Um desses grupos de filósofos itinerantes era chamado de sofista. Os sofistas ensinavam por dinheiro, ao mesmo tempo que afirmavam que as indagações da filosofia, os enigmas do Universo, jamais seriam respondidas pelo mortal - uma perspectiva filosófica conhecida como cepticismo. Com os sofistas e Sócrates, o centro da reflexão filosófica grega deslocou-se dos problemas cosmológicos para os problemas humanos, particularmente a ética. E, para Sócrates, a virtude se identificaria com o saber: o homem só agiria mal por ignorância.

Assim como os sofistas, Sócrates tinha mais interesse no homem e em seu lugar na sociedade do que nas forças da Natureza. Ao contrário deles, Sócrates jamais recebeu dinheiro em troca de ensinamentos, e se distinguia dos sofistas em um outro aspecto bastante importante. Sócrates não se considerava um "sofista" - ou seja, uma pessoa erudita ou sábia. Tendo encontrado a sociedade ateniense minada pela demagogia e pelas repercussões negativas da desastrosa Guerra do Peloponeso, o filósofo teria se empenhado, a partir dos 40 anos, na reestruturação moral de seus concidadãos. Passou então a viver nas ruas de Atenas ensinando a virtude e a sabedoria. Não aceitava pagamento por isso e tampouco aceitou cargos públicos. Opôs-se aos sofistas, afirmando que o conhecimento é possível e que seu objecto primordial é a própria alma (Sócrates teria se inspirado no adágio do oráculo de Delfos: "Conhece-te a ti mesmo").

Ele achava que o filósofo é aquele que admite não entender inúmeras coisas, e que se aflige com isso. Nesse sentido, o filósofo ainda é mais sábio do que aqueles que se orgulham do conhecimento que têm das coisas sobre as quais, na verdade, nada sabem. Sócrates declarou: "Só sei que nada sei".

Consta que um amigo de Sócrates perguntou ao oráculo de Delfos quem era o homem mais sábio de Atenas. O oráculo respondeu que, dentre todos os mortais, Sócrates era o mais sábio. Sócrates ficou pasmo ao saber disso. Procurou imediatamente a pessoa na cidade que, para ele e para todo mundo, era extremamente sábia. Mas quando aconteceu de essa pessoa não dar as respostas satisfatórias a suas perguntas, embora se achasse capaz disso, Sócrates concluiu que o oráculo estava certo. A sabedoria de Sócrates de devia ao faro de ele estar plenamente ciente da própria ignorância.

Embora colocasse em constante dúvida a extensão de seu conhecimento (um método que Descartes usaria cerca de dois mil anos mais tarde). Sócrates achava possível um homem alcançar verdades absolutas acerca do Universo. Ele sentia a necessidade de estabelecer uma base sólida para nosso conhecimento, um alicerce que, segundo ele, estaria na razão do homem. Com essa inabalável crença na razão humana, Sócrates era decididamente um racionalista.

Ele afirmava que era guiado por uma voz interior divina, e que essa "consciência" lhe dizia que ele estava certo. Ele disse: "Aquele que conhece o bem faz o bem". Com isso, queria dizer que o entendimento justo leva à acção justa. E só o justo pode ser um "homem virtuoso". Quando agimos erradamente é porque nada sabemos. Sócrates estava interessado em descobrir definições claras e universalmente válidas para o certo e o errado. Ao contrário dos sofistas, ele achava que a capacidade de distinguir o certo do errado está na razão das pessoas e não na sociedade.

A natureza essencial da arte de Sócrates está em que ele parecia não querer ensinar as pessoas. Pelo contrário, dava a impressão de desejar aprender com aqueles com quem conversava. Em vez de dar aulas como um mestre tradicional, debatia, simplesmente fazendo perguntas - principalmente para começar uma conversa - com se nada soubesse.

Ao longo dos debates, em geral levava os oponentes a reconhecer a fraqueza de seus próprios argumentos e, encostados contra a parede, finalmente compreender o que estava certo e o que estava errado.

Partindo da consciência da própria ignorância ("Só sei que nada sei"), utilizava como método não a exposição, mas a (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que podia assumir duas formas distintas:

a ironia socrática, com a qual alegava ignorância em assuntos de que os outros se julgavam profundos conhecedores, apenas para demolir suas opiniões, levando o interlocutor à contradição e, desse modo, a purificar o espírito de ideias falsas e preconceitos. Ao se passar por ignorante, Sócrates obrigava as pessoas a usar o senso comum. Ele não hesitava em agir desse modo na praça da cidade;

e a maiêutica (arte de partejar os espíritos, numa alusão à profissão materna), pela qual Sócrates auxiliava o interlocutor a encontrar a resposta por meio de um trabalho de reflexão; em outras palavras, Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a "dar à luz" a compreensão correcta, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por outra pessoa. E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.

A vida e o pensamento de Sócrates fascinaram os filósofos ocidentais e suscitaram uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão.

A cidade e Sócrates



A cidade e Sócrates

· Séc. V a.c.

Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas acções são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou sua sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.

Diz-se que Sócrates acreditava que as ideias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Opunha-se à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época. Acreditava que a perfeita república deveria ser governada por filósofos. Acreditava também que os tiranos eram até mesmo mais legítimos que a democracia

· Séc. XXI

Época Contemporânea. Século XXI. Os combates sociais avançam no sentido de uma melhor distribuição da riqueza colectivamente gerida, nomeadamente para assegurar condições de vida mínimas para todos os cidadãos. A cidadania confere automaticamente um vasto conjunto de direitos económicos, sociais, culturais, etc., assegurados pela sociedade de pertença.

Globalização. Assistimos hoje a dois importantes movimentos com reflexos profundos ao nível da cidadania.

Os estados-nação estão a ser diluídos em organizações supra-nacionais, nas quais os seus cidadãos têm cada vez menor poder de decisão. Muitos dos seus direitos tradicionais, como os direitos políticos, tornam-se meras ficções.

Os estados-nação com populações cada vez mais heterogéneas estão a ser pressionados para alargar os seus critérios de atribuição da cidadania, tendo em vista permitir o acesso à riqueza produzida e acumulada a todos aqueles que os procuram para viver e trabalhar, como os imigrantes, refugiados, etc.

Num período de enorme mobilidade de pessoas à escala mundial, caminhamos para um novo conceito de cidadania, identificada com uma visão cosmopolita.

Sócrates na Grécia antiga já se opunha ao tipo de democracia exercida, por a considerar pouco legítima e dirigida por pessoas pouco sábias, porque segundo ele, a governação de uma cidade devia ser levado a cabo por sábios, ou seja filósofos. Ora segundo este ideal, Sócrates ir-se-ia sentir totalmente frustrado nos dias correntes porque para além da democracia ser actualmente exercida de uma modo representativo, todas os cidadão tem direito a escolha, logo somos governados por pessoas que em nada se assemelham aos ideais filosóficos de Sócrates, e que o objectivo não se prende somente á “boa” governação mas sim aos interesses pessoais.

Sócrates “hoje”


Sócrates “hoje”

Não querendo comparar Sócrates aos sofistas, pessoas pelas quais não exprimia agrado, achamos que na época em que vivemos, Sócrates seria professor universitário, muito provavelmente de filosofia, que lhe poderia dar a liberdade, não só ensinar os seus alunos como também de os fazer pensar por eles mesmos, "Eu não posso ensinar nada a ninguém, eu só posso fazê-lo pensar".

O seu desinteresse por bens materiais, tentando levar uma vida humilde em busca do próprio desenvolvimento, teriam de ser algo sacrificados, na medida que a sociedade actual, para além de uma sociedade altamente consumista, não se organiza da mesma forma que a Grécia antiga, como tal, embora pudesse levar uma vida humilde, teria de receber uma retribuição financeira, nomeadamente um ordenado para sua própria subsistência e integração na sociedade.

Os seus famosos discursos, poderiam assim, ter lugar em universidades, em palestras, congressos, e mesmo como comentador televisivo, para o qual teria de ter algum destaque social de forma a puder ter algum impacto mediático, através das suas ideias sábias e que certamente iriam por em causa o mundo politico e social.

Acreditaria e cumpria as regras da sociedade, principalmente as impostas pela justiça, levaria as suas ideias e princípios até á ultima instância, "É preciso que os homens bons respeitem as leis más, para que os homens maus respeitem as leis boas."

No século V a.c. Sócrates era um deslocado social, por ter uma ideologia diferente da maioria dos seus contemporâneos, actualmente seria o mesmo, destacar-se-ia do resto da população pelas suas ideias filosóficas, mas não teria o mesmo impacto social que teve na altura.

Sintetizando, a sua vida presentemente seria marcante para a actualidade, não tanto quanto foi na Grécia Antiga, no entanto continuaria a exercer os seus discursos e a aplicar reflexões filosóficas "Conhece-te a ti próprio.", levando os seus ouvintes a reflectir, e através dos seus comentários televisivos, provocar um impacto mediático de tal forma que pudesse provocar a meditação!

Conclusão


Conclusão

· Por Patrícia Azevedo

Assim sendo, podemos explicar que Atenas é vista como um começo ou um modelo da Democracia Ocidental, e aqui tudo é muito cingido, e o mais movido dos direitos era o da participação dos cidadãos nas decisões da cidade. Contudo surge-nos Sócrates que foi, verosimilmente, a figura mais misteriosa de toda a história da filosofia. No entanto algo fez perder a sua veracidade pois Sócrates foi acusado de "introduzir novos deuses" (as "vozes interiores divinas" que ele afirmava ouvir na cabeça) e adulterou os jovens, além de não crer nos deuses adorados, foi por si só um enigma filosófico. Por tudo isto Sócrates foi então condenado por um júri de 501 membros, poderia ter fugido mas iria contra os seus princípios. A vida e o pensamento de Sócrates sugestionaram os filósofos ocidentais e suscitara uma admiração quase mística em Rousseau, Kant e Hegel, ao mesmo tempo que uma rejeição exemplar em Nietzsche, que via nele o aniquilador do mito em nome da razão. Sócrates foi sem dúvida um dos maiores filósofos de todos os tempos. Se ele existisse seria se dúvida professor universitário e seguramente de filosofia, adorado por uns e rejeitado por outros, dado o seu grande talento para ensinar e fazer meditar.

Por fim devo dizer que Sócrates seria sem dúvida um agente grandemente importante na nossa sociedade, as sua filosofia e reflexão levaram-no a sofrer as consequências na Grécia Antiga, hoje seria o mesmo. A filosofia e a capacidade de reflexão que Sócrates possui-a no seu dia a dia e na sua interacção com a cidade, não sendo particularmente valorizada actualmente é deveras importante, para nos defender-mos dos perigos camuflados que esta sociedade capitalista e consumista tem.


· Por Paulo Nunes

Seria pouco provável o êxito de Sócrates no séc XXI. Embora pudesse acabar por reunir um pequeno grupo de apoiantes, que o caracterizavam como sendo um dos homens mais sábios e inteligentes da actualidade, tal como viam os seus contemporâneos “da Grécia antiga”, o certo é que a maioria da sociedade actual não lhe daria a devida atenção, pelo contrário, olhariam para ele como um deslocado que pretendia chamar atenção através dos seus discursos filosóficos, criticando todos os que pertenciam a uma sociedade “Parasita” que vive em redor dos interesses político-económicos.

Os seus discursos relativos a questões polémicas do quotidiano como, humanas, ética, política, conhecimento, etc, não o levariam à morte por condenação, todavia seria certamente condenado ao fracasso, face ao desinteresse total demonstrado pela máquina manipuladora de uma imprensa dominada pelos estados capitalistas. Ainda neste contexto, a classe política desde logo faria todos os possíveis para aniquilar Sócrates, pois ele era a voz da indignação no que diz respeito à forma como os políticos deste séc. XXI defendiam as suas posições partidárias e os seus conceitos políticos, que como se sabe, não correspondem nem de perto nem de longe aos ideais de Sócrates, quando este invoca que a política deveria ser exercida por alguém que soubesse falar em público e defender suas ideias de uma forma clara e explícita, o que não acontece na realidade com os políticos que temos.

Se pensarmos numa sociedade que não é capaz de inverter o aumento cada vez maior de desigualdade social, de guerras, de fome, de miséria etc, como poderiam perder um pouco do seu tempo a ouvir os ideais de Sócrates, nomeadamente do que diz respeito à reflexão? Seria assim mais um, entre muitos aventureiros que apesar do seu esforço em mudar as mentalidades, acabaria por esbarrar nos ideais de uma civilização medíocre, dona da razão que pensa acima de tudo num bem estar pessoal em detrimento do colectivo.


· Por Bruno Gonçalves

Sócrates foi o fundador e símbolo por excelência da filosofia ocidental, pelo menos é o que nos chega aos dias de hoje, pelos registos de Platão, que foi a única pessoa que achou que a sua actividade filosófica era digna de registo, como tal Sócrates e as suas atitudes, ideias, pensamentos, diálogos e vida podem ter sido mera criação do seu discípulo Platão, mas algo irrefutável é a sua existência e que era moral e filosoficamente diferente dos seus contemporâneos.

Na sociedade Ateniense do séc. V a.c., a atitude de Sócrates e as suas ideias divergentes da maioria da restante população, levaram-no a ser condenado á morte, como tal Sócrates se vivesse hoje em dia também não seria valorizado devido á sua diferença.

No séc. XXI vivemos numa sociedade globalizante, em que se procura que todos sejamos “iguais”, uma atitude filosófica de reflexão, critica e desconstrução dos valores da sociedade para que possamos pensar por nós próprios sem preconceitos, não aceitando tudo o que nos é imposto, sem nem sequer por nada em causa, é algo que como na época de Sócrates não é bem aceite. Somos bombardeados por processos de manipulação e alienação de todas as direcções e principalmente por parte dos media, que controlados por grupos sociais e políticos nos tentam incumbir uma estupidificação de massas, um pensamento único e global, logo a reflexão, o pensamento filosófico próprio é algo marginal "A vida sem reflexão não merece ser vivida.".

A comunicação e os diálogos que Sócrates tanto apreciava estão cada vez mais em desuso, arrastando consigo a amizade a comunicação “física" e o sentido de comunidade, levando a que as pessoas fiquem cada vez mais isoladas e presas a bens materiais. Isto tudo resulta na perda cada vez maior do poder de decisão na sociedade em que estamos integrados, vendo alguns dos nossos direitos a transformarem-se em meras ilusões.

“Revoltado”, seria como Sócrates provavelmente poderia ser apelidado caso vivesse actualmente, ao não seguir o “pastor”, separando-se do restante “rebanho” e acreditando até ás ultimas consequências nas leis da cidade em que vivia, mas se por outro lado adoptasse uma postura valorizada pela actual sociedade materialista, poderia até vir a ser considerado um herói e um exemplo a seguir por muitos, sem que importasse o que pensa e o que é mas sim o que tem.

Quer há vinte e cinco séculos atrás quer principalmente hoje, embora mais trabalhoso e limitado, deveríamos adoptar uma postura perante a sociedade e a cidadania equivalente á do Filosofo Sócrates, para que pudesse-mos ser mais livres, ter uma visão mais real do espaço que nos rodeia e do planeta onde habitamos, para alem de contribuirmos para uma sociedade mais racional, justa e equilibrada, aproveitando assim a principal característica que nos distingue dos restantes animais, o raciocínio!

"Aquele a quem a palavra não educar, também o pau não educará."